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A verdadeira sabedoria é saber o quão pouco nós realmente sabemos.

Sócrates

31/03/2010

O Conceito de Política como Poder em Maquiavel


INTRODUÇÃO

Na modernidade houve uma ruptura com os conceitos éticos políticos do pensamento filosófico antigo. A política passa a desenvolver sua autonomia, com regras independentes dos conceitos éticos ou religiosos antigos.
Em meados de 1500, um pensador marca o conceito de política moderno, é Nicoló Machiavelli, mais conhecido como Maquiavel, um secretário diplomático da República de Florença, que após observar os sucessos e fracassos das leis e da política de outros países, escreveu uma obra chamada “O Príncipe” . Sua obra expôs seu pensamento político que reflete até os dias de hoje.
A obra de Maquiavel apontava para o uso de poder, força e até violência como forma de sabedoria e virtude na política. Assim é relevante observar O Príncipe para compreender o pensamento de Maquiavel, que foi tão marcante na modernidade.

MAQUIAVEL E SEU CONCEITO DE POLÍTICA COMO PODER

Maquiavel sintetiza o pensamento político da modernidade em sua obra O Príncipe, para ele não existe um modelo ideal político, rompe assim com Platão, Aristóteles e outras correntes antigas, dando uma nova face política moderna. Parte de um pressuposto realista, em suas palavras: “julguei mais conveniente ir atrás da verdade efetiva do que das suas aparências [...] Entre como se vive e como se devia viver há uma tamanha diferença.” (MAQUIAVEL, 2001, p.37).
O pensamento de Maquiavel é que o mundo não pode ser pensado como lugar ideal, e o homem tem o dever de buscar a verdade real, pois ela pode transformar a realidade. Devia-se buscar o conhecimento do uso de poder, é o homem como um príncipe que deseja conservar o poder, aprendendo a não ser bom, e usar o poder para satisfazer suas próprias necessidades. Maquiavel acreditava que aquele que é bom, caminhava para perdição, pois este mundo é de perversos.
Na verdade, aquele que num mundo cheio de perversos, pretende seguir em tudo os ditames da bondade, caminha inevitavelmente para a própria perdição. Daí se infere que um príncipe desejoso de conservar-se no poder tem de aprender os meios de não ser bom e a fazer uso ou não deles, conforme as necessidade (MAQUIAVEL, 2001, p.37).
A sabedoria para Maquiavel, eram as regras e conselhos do bom governante, que ia além de formas pré-estabelecidas, mas pautava-se no contexto, circunstância e momento de suas aplicações. Tal capacidade não poderia ser ensinada, era um discernimento natural, o que ele chamava de virtu. Já as mudanças que o homem não possuía controle, e que o príncipe tinha o poder de ação, era chamada de fortuna. “Com Maquiavel, os homens comuns, com desejos, interesses e virtudes, pisam finalmente o terreno da política para tomar para si sua própria fortuna.” (NASCIMENTO, 2009, p. 73)
Maquiavel, na conquista de estados como forma de conservar as próprias leis, vivendo em liberdade, via três alternativas: Primeiramente era arruinar os outros; depois ir habitá-los pessoalmente; e por último, deixá-los viver com suas leis, arrecadando um tributo e conservando alianças (cf. MAQUIAVEL, 2001, p.10).
Para ele, o governante ideal; o príncipe; não tem como objetivo realizar a justiça ou estabelecer o bem comum, mas conservar o poder e proporcionar a liberdade dos cidadãos. Para Maquiavel a política só poderia ser exercida no poder, deixando de ser bom para conquistando a liberdade.

O PESO POLÍTICO COMO FORÇA

O pensador Gerald Lebrun discorre sobre o poder que não é pela força, mas pelo peso político, sem usar a violência nem coerção. Ele aponta para o peso político, por si só, como fator determinante no comportamento de outras pessoas. A força para Lebrun é a canalização de potência, e sua determinação. Ele mostra acreditar em uma forma de se exercer o poder político sem o uso da força, em sua obra “O que é poder?”
“[...] se numa democracia, um partido político tem peso político, é porque tem força para mobilizar um certo número de eleitores. Se um sindicato tem peso político, é porque tem força para deflagrar uma greve. Assim, força não significa necessariamente a posse de meios violentos de coerção, mas de meios que permitam influir no comportamento de outras pessoas. A força não é sempre um revólver apontado para a cabeça de alguém, pode ser o charme do ser amado quando me extorque alguma decisão. Em suma a força é a canalização da potência, é sua determinação” (LEBRUN, 1980, p. 57)
Lebrun aponta para uma forma de se exercer a política sem violência, sustenta que a força é a canalização do poder para transformar comportamentos, sem geral temor, e sim, pelo charme de ser amado.

CONCLUSÃO

Da antiguidade a modernidade, a ética na política esteve em decadência. Maquiavel propôs uma briga por poder, onde só era possível sobreviver em um mundo de perversos através da força e até mesmo, da violência. Assim, a política que surgiu pautada na ética, passa a ser vista tolerável até a mentira, desde que seja para a manutenção de poder, sendo o poder, a virtude na política.
Maquiavel observando as estruturas políticas de países bem sucedidos, escreveu sua posição acerca do melhor governo e estratégia para que fosse alcançada a Liberdade de toda ameaça que países estruturados representavam. A política, então, poderia ser exercida por pessoas comuns que usariam de poder, e conquistariam sua fortuna, através da virtude pessoal que se adapta as circunstâncias, na conquista do bem.
Centenas de anos depois, Lebrun, apontaria para o poder político sendo exercido sem a violência ou coersão, sem ver a política como conquista de poder, mas como poder transformador.
Se para Maquiavel a política só poderia ser exercida pelo poder, e pelo abandono de ser bom, para Lebrun o poder está justamente no abandono da violência, e encontra-se na influência benéfica do comportamento de outros. Assim, a sociedade se organiza politicamente, pela influência de poder que transforma comportamentos.

BIBLIOGRAFIA

LEBRUN, Gerard. O que é poder? São Paulo: Brasiliense, 1980.
MAQUIAVEL, N. O prícipe. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
NASCIMENTO, Rodnei, dr. A política no mundo moderno: Autonomia da política em o principe de Maquiavel. In: Logos e Práxis: Leituras de Filosofia Antiga, Ética e Política. São Bernardo do Campo, Universidade Metodista de São Paulo, 2009.

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