Período Helenístico
A palavra “helenística” deriva de
helenismo, termo que corresponde ao período que vai de Alexandre Magno, o
macedônico, até o da dominação romana (fim do séc. IV a. C. ao fim do séc. I
d.C.). Alexandre foi o grande responsável por estender a influência grega desde
o Egito até a Índia.
A filosofia helenística
corresponde a um desenvolvimento natural do movimento intelectual que a
precedeu e torna a defrontar-se muitas vezes com temas pré-socráticos; porém,
sobretudo ela é profundamente marcada pelo espírito socrático. A experiência
com outros povos também lhe permitiu desempenhar certo papel no desenvolvimento
da noção de cosmopolitismo, isto é, da ideia de homem como cidadão do mundo.
As escolas helenísticas têm em
comum a atividade filosófica, como amor e investigação da sabedoria, sendo esta
um modo de vida. Elas não se diferenciavam muito na escolha da forma de
sabedoria. Todas elas definiam a sabedoria como um estado de perfeita
tranquilidade da alma. Nesse sentido, a filosofia é uma terapêutica dos
cuidados, das angústias e da miséria humana, miséria resultante das convenções
e obrigações sociais.
Todas as escolas helenísticas
trazem certa herança socrática ao admitir que os homens estão submersos na
miséria, na angústia e no mal, porque estão na ignorância; o mal não está nas
coisas, mas no juízo de valor que os homens atribuem a elas. Disso decorre uma
exigência: que os homens cuidem de mudar radicalmente seus juízos de valor e
seu modo de pensar e ser. E isso só é possível mediante a paz interior e a
tranquilidade da alma.
Cinismo
O Cinismo foi uma corrente
filosófica fundada por um discípulo de Sócrates, chamado Antístenes, e cujo
maior nome foi Diógenes de Sínope, por volta de 400 a.C., que pregava
essencialmente o desapego aos bens materiais e externos. O termo passou à
posteridade como caracterização pejorativa de pessoas sem pudor, indiferentes
ao sofrimento alheio.
A palavra deriva do grego
kynismós, chegando até o presente pelo latim cynismu. A origem do termo, porém,
é incerta: Alguns autores afirmam que o nome originou-se do local onde
Antístenes teria fundado sua Escola, o Ginásio Cinosarge, ao passo que outros
afirmam ser um termo derivado da palavra grega para cachorro: kŷőn, kynós, numa
analogia com o fato de os cínicos pregarem uma vida como a dos cães, na ótica
das pessoas contemporâneas.
Os “cínicos” defendiam que a
verdadeira felicidade não dependia de coisas exteriores, como o luxo material,
o poder político e uma boa saúde. A verdadeira felicidade significava não se
tornar dependente dessas coisas casuais e passageiras. Precisamente por não
repousar sobre essas coisas, a felicidade podia ser alcançada por todos. E uma
vez alcançada não se podia voltar a perder.
O cínico mais conhecido era
“Diógenes”, um discípulo de Antístenes. Conta-se que morava num tonel e que só
possuía um manto, um bastão e um saco para o pão. (Não era fácil roubar-lhe a
sua felicidade!). Há histórias que afirmam que ele chegou a viver dentro de um
barril, nu, e ridicularizava todos os cidadãos e seus hábitos com um humor
implacável.
Certo dia, estava a tomar um
banho de sol à frente do seu tonel quando Alexandre Magno o visitou. Alexandre
apresentou-se ao sábio e disse-lhe que lhe daria o que ele desejasse. Diógenes
pediu a Alexandre que não lhe tapasse o sol. Foi assim que Diógenes demonstrou
que era mais rico e mais feliz do que o grande homem. Tinha tudo o que
desejava.
Epicurismo
Epicuro acreditava que o maior
bem era a procura de prazeres moderados de forma a atingir um estado de
tranquilidade (ataraxia) e de libertação do medo, assim como a ausência de
sofrimento corporal (aponia) através do conhecimento do funcionamento do mundo
e da limitação dos desejos. A combinação desses dois estados constituiria a
felicidade na sua forma mais elevada. Embora o epicurismo seja doutrina muitas
vezes confundida com o hedonismo (já que declara o prazer como o único valor
intrínseco), a sua concepção da ausência de dor como o maior prazer e a sua
apologia da vida simples tornam-no diferente do que vulgarmente se chama
“hedonismo”.
Epicuro vê na filosofia o caminho
para alcançar a felicidade, entendida como libertação das paixões. O valor da
filosofia é, pois, puramente instrumental: o seu fim é a felicidade.
Mediante a filosofia o homem
liberta-se de todo o desejo inquieto e molesto; liberta-se também das opiniões
irracionais e vãs e das perturbações que delas procedem.
A investigação científica
destinada a investigar as causas do mundo natural não tem um fim diferente.
"Se não estivéssemos perturbados pelo pensamento das coisas celestes e da
morte e por não conhecermos os limites das dores e dos desejos, não teríamos
necessidade da ciência da natureza" (Máximas capitais, 11). O valor da
filosofia está, pois, inteiramente em dar ao homem um "quádruplo
remédio":
Libertar os homens do temor dos
deuses, demonstrando que pela sua natureza feliz, não se ocupam das obras
humanas.
Libertar os homens do temor da
morte, demonstrando que ela não é nada para o homem: "quando nós
existimos, não existe a morte; quando a morte existe, não existimos nós"
(Ep. a Men., 125).
Demonstrar a acessibilidade do
limite do prazer, isto é, o alcançar fácil do próprio prazer;
Demonstrar a distância do limite
do mal, isto é, a brevidade e a provisoriedade da dor.
Os epicuristas e a morte:
Para os epicuristas, simplesmente
não faz sentido se preocupar com ela. Acompanhe, leitor, o raciocínio: quando
um ser humano existe, a morte não existe para ele. Quando ela existe, ele é que
não existe mais. Assim, nós nunca nos encontramos com nossa morte – nossa
existência nunca se dá ao mesmo tempo da existência dela. Logo, ocupemos nossas
mentes com a vida e desfrutemos dela.
E qual é o maior bem que podemos
usufruir? O prazer. Ah, o prazer! Mas, calma lá. A noção de prazer, no
epicurismo, é extremamente refinada. Não se trata de uma busca desenfreada pela
fruição do momento presente, como era para outro grego, Aristipo de Cirene
(435-366 a.C.), conhecido por pregar o hedonismo.
O prazer do epicurismo é calmo e
sereno. O sábio deve evitar a dor e as perturbações, levando uma vida isolada
da multidão, dos luxos e excessos. Colocando-se em harmonia com a natureza, ele
desfruta da paz. Epicuro condena a renovação a qualquer preço e a ânsia pela
mudança, pregando uma espécie de prazer tranquilo.
Para vivenciar esse prazer, é
fundamental evitar a dor, como ensina o quarto remédio de Diógenes. A tarefa
não é difícil para Epicuro. Diferentemente da postura desapegada em relação ao
passado e ao futuro, característica dos seguidores do estoicismo – corrente
filosófica contemporânea e rival à de Epicuro –, os epicuristas afirmavam que,
para amenizar momentos dolorosos, nada como se lembrar de alegrias passadas ou
criar expectativas felizes em relação ao futuro. E não pense que o mestre
ensinava sem conhecimento de causa: ele mesmo sofria dores constantes, em
virtude de uma grave doença que o acompanhou em grande parte da vida.
Estoicismo
O estoicismo é uma escola de
filosofia helenística fundada em Atenas por Zenão de Cítio, no início do século
III a.C.. Os estóicos ensinavam que as emoções destrutivas resultavam de erros
de julgamento, e que um sábio, ou pessoa com "perfeição moral e
intelectual" não sofreria dessas emoções.
Os estóicos preocupavam-se com a
relação activa entre o determinismo cósmico e a liberdade humana, e com a
crença de que é virtuoso manter uma vontade (denominada prohairesis) que esteja
de acordo com a natureza. Por causa disso, os estóicos apresentaram a sua
filosofia como um modo de vida, e pensavam que a melhor indicação da filosofia
de uma pessoa não era o que teria dito mas como se teria comportado.
Eles enfatizavam a ética como o
foco principal do conhecimento humano, embora suas teorias lógicas fossem de
mais interesse para os filósofos posteriores.
O estoicismo ensina o
desenvolvimento do auto-controle e da firmeza como um meio de superar emoções
destrutivas, a filosofia defende que tornar-se um pensador claro e imparcial
permite compreender a razão universal (logos).
Um aspecto fundamental do
estoicismo envolve a melhoria da ética do indivíduo e de seu bem-estar moral:
"A virtude consiste em um desejo que está de acordo com a Natureza".
Este princípio também se aplica ao contexto das relações interpessoais;
"libertar-se da raiva, da inveja e do ciúme", e aceitar até mesmo os
escravos como "iguais aos outros homens, porque todos os homens são
igualmente produtos da natureza".
Uma característica distintiva do
estoicismo é o seu cosmopolitismo: todas as pessoas são manifestações do
espírito universal único, e devem, de acordo com os estóicos, em amor
fraternal, e ajudarem-se uns ao outros de maneira eficaz.
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