Foi conhecido em todos os tempos
como havendo sido o primeiro filósofo e proponente de um sistema da natureza,
em que o elemento fundamental é a água, bem como sempre citado como o primeiro
entre os sete sábios da Grécia.
Também foi sempre citado como tendo
sido o primeiro a prever um eclipse do sol e por dar nome a um teorema da
matemática.
Por tantos títulos é conveniente a
todo filósofo e cientista conhecer algo mais do referido Tales de Mileto,
também porque foi o primeiro sábio a superar as explicações míticas, com isto
encaminhando a ciência e a filosofia para seu verdadeiro curso.
Vida - Filósofo, matemático, astrônomo, político Filho de pais
ricos e nobres: Exâmias e Cleobulina, Tales foi comerciante de sal e de azeite
de oliva, e enriqueceu como proprietário de prensas de azeitona durante uma
safra promissora. Muitos historiadores apontam o nascimento de tales na cidade
de Mileto na Ásia menor, mas o fato é que não pode se afirmar com toda certeza,
assim como sua data de nascimento e morte, muito embora seja o mais provável
que tenha nascido em Mileto.
Dizem alguns, como Heródoto, que
ele veio da Fenícia e se fez cidadão de Mileto. "Tales de Mileto, fenício
por antiga origem "1.
Diógenes Laércio, reunindo mais
detalhes, se refere ao antigo uso de ligar, direta ou indiretamente, os homens
eminentes a algum fator sobrenatural, ou mítico: "Heródoto, Duris e
Demócrito dizem, que Tales, filho de Exâmias e Cleobulina, pertencia à família
dos Tálidas, uma das mais ilustres da Fenícia, oriunda ela mesma de Cadmo e
Agenor, segundo diz Platão" .
Sabe-se, o que a lenda de então
dizia, que Agenor era filho de Posseidon (Deus dos Mares) e de uma Oceania. Rei
da Fenícia, Agenor teve uma filha, de nome Europa, amada de Zeus, e três
filhos, Cádmo, Fênix, Cinix.
Ora, Zeus teria roubado Europa e
se transferido ao outro continente. Partira então Cadmo em busca de sua irmã
Europa. Em Beócia fundou Cadméia, depois Tebas 4.
Embora o narrado seja uma lenda, o
fato de haver sido criada, mostra a importância dos personagens em torno dos
quais se criou. Os homens importantes da antiguidade apresentam alguma versão
sobre sua origem sobrenatural. Platão será dito divino, porque gerado por obra
de Deus Apolo, que engravidou à Periccione. O mesmo se dirá de fundadores de
religiões. Por esta razão, uns e outros são ditos Divinos, Filhos de Deus,
Sábios, etc.
Acrescentou Diógenes Laércio sobre
Tales:
"Segundo
estes testemunhos, teria obtido o direito de cidadania em Mileto, quando aqui
chegou com Neleu, fugido da Fenícia. A opinião mais acreditada, porém, é a de
que era originário de Mileto e de uma família ilustre".
Se fosse verdadeira esta
informação, ela apoiaria a opinião de que houvera alguma influência oriental no
despertar da filosofia grega. Mais firme é a opinião de que Tales tenha sido
tão jônico, quando os demais filósofos e sete sábios da Grécia.
As datas de nascimento e morte de
Tales se fixam pelo calendário dos jogos olímpicos, em combinação com
acontecimentos significativos:
Nascimento pelo ano 624 a.e.c.;
Morte, cerca de 546 a.e.c.
Jogos Olímpicos - Os jogos olímpicos começaram a ser praticados em
776 a.e.c., em honra de Zeus, em torno do templo de Olímpia, na Península do
Peloponeso. Mas, somente em 264 a.e.c. Timeo da Sicília criou este sistema
cronológico.
Ainda sobre a morte de Tales
informou Diógenes Laércio:
"Tales, o sábio, presenciando um combate ginástico, sucumbiu por
causa do calor, da sede e do esgotamento da velhice".
Continua o mesmo informante:
"Sobre
a sua tumba se colocou a seguinte inscrição:
Contempla
aqui a tumba de um gênio poderoso, Tales!
Este
monumento pouco vale, sua glória, porém se eleva até aos céus"!
Contam-se alguns episódios de Tales, referentes ao
casamento, estudo, riqueza. Sobre o casamento de Tales as informações não são
claras, havendo Diógenes Laércio reunido algumas delas:
"Alguns
autores asseveram, que ele casou, e que teve um filho chamado Cibiso. Outros
dizem, que ele permaneceu sempre solteiro, e que adotou o filho de sua
irmã" .
No que concerne ao assunto do casamento,
conta-se o episódio:
"Sua mãe insistia que ele
casasse, e ele lhe respondeu: Ainda não é tempo. Depois, quando já era de mais
idade, ao repetir ela a insistência, ele respondeu: já não é mais tempo".
Certa vez, "ao ser perguntado
por que não pensava em ter filho, ele respondeu, porque eu muito amo às
crianças". Considerado o "Pai" da filosofia ocidental, estudioso
da matemática, geometria e astronomia, alguns historiadores consideram,
todavia, que sua colocação pelos antigos entre os "sete sábios da
Grécia" deveu-se principalmente à sua atuação política: teria tentado unir
as polis gregas da Ásia Menor numa confederação, no intuito de fortalecer o
mundo helênico diante das ameaças de invasões de povos orientais. Foi
proclamado pelo Oráculo de Delfos como o primeiro dos sete sábios da
antigüidade. A formação cultural e científica de Tales de Mileto é proveniente
de suas constantes viagens. Teve contato com a Geometria no Egito e com a
Astronomia na Babilônia, onde os conhecimentos de Matemática datam de um
milênio antes dele.
Como matemático, são atribuídos a
ele os seguintes teoremas: um círculo é bissectado por um diâmetro; os ângulos
da base de um triângulo isósceles são iguais; os pares de ângulos opostos
formados por duas retas que se cortam são iguais; se dois triângulos são tais
que dois ângulos e um lado de um são iguais respectivamente a dois ângulos e um
lado de outro, então os triângulos são congruentes; que todos os ângulos
inscritos no meio circulo são retos e que, em todo triângulo, a soma de seus
ângulos internos é igual a 180 graus.
Tales e a Astronomia - Conta-se que numa das viagens ao Egito,
Tales impressionou o Faraó, medindo a altura das pirâmides pela observação do
comprimento das sombras no momento em que a sombra de um bastão vertical é
igual à sua altura..Foi o primeiro astrônomo a explicar o eclipse do sol, ao
verificar que a Lua é iluminada por este astro. O que parece mostrar e provar
que as suas idéias eram, não somente conhecidas, mas também largamente
compartilhadas e discutidas. Tales aprendeu no Egito a teoria dos eclipses do
Sol e da Lua, ou, pelo menos, que esses fenômenos se repetem dentro de um ciclo
tal que sua previsão se torna possível. Previu assim em 585 a.e.c. um eclipse
solar que até hoje é discutido entre historiadores se foi um fato verídico ou
algo inventado para engrandecer ainda mais os suas obras.
Na época de Tales, a concepção do
Universo era vaga. Somente alguns séculos mais tarde a cultura grega elaboraria
a idéia de uma estrutura heliocêntrica do Universo e Erastóstenes ousaria medir
as dimensões da Terra, chegando a um resultado tão preciso que competiria com
aquele só alcançado no século XIX.
Para os contemporâneos de Tales, a
Grécia era o centro do Universo, e a Terra um globo flutuando nas águas. Tales
também pensava desta maneira. Mas, se essa concepção era suficiente para
explicar como estava colocada a Grécia em relação ao mar, certamente não era
suficiente para explicar como estavam dispostos os planetas no espaço e, muito
menos, como ocorriam os eclipses. Por isso, julga-se hoje que a previsão de
Tales sobre o eclipse de 585 a.e.c. se deve exclusivamente ao entusiasmo de
alguns historiadores, a fim de aumentar seus feitos e suas glórias.
Todos os pensadores sentiam uma
necessidade fundamental de descobrir o princípio material segundo o qual tinha
evoluído todo o Universo, diferenciando-se depois em todos os seus aspectos.
Para Tales, o elemento básico, a partir do qual se tinha formado toda a matéria
do Universo, era a água. Um dia, pensava ele, seriam descobertas leis que
permitiriam compreender como a água era a origem de todas as coisas.
Quando Tales foi para o Egito, a
penetração da cultura grega tinha apenas se iniciado, embora já existissem
colônias gregas e os faraós tivessem a seu serviço tropas auxiliares
constituídas por mercenários gregos. Os objetivos das viagens de Tales eram
provavelmente o estabelecimento de relações comerciais entre os dois povos.
Conciliando suas tarefas mercantis com o estudo, encontrou uma maneira de
aprender mais, entrando em contato com pensadores que poderiam ajudá-lo a
alargar seus conhecimentos.
Para Tales, cada problema da vida
era interessante; provavelmente considerava igualmente importantes um negócio
comercial, um problema político, um teorema de geometria, ou ainda uma questão
que dissesse respeito à Terra. E suas viagens devem tê-lo levado, além do
Egito, à Pérsia e países do Mediterrâneo Oriental. Permitiram-lhe, portanto,
estudar as características dos povos com os quais entrava em contato,
assimilando suas tendências culturais e políticas.
Tales aprendeu no Egito a calcular
a altura das pirâmides e medir as distâncias dos navios no mar. Estes
conhecimentos lhe vieram dos sacerdotes egípcios, depositários da Ciência. Mas,
ao contrário de seus mestres - que transmitiam esses conhecimentos como segredos
profissionais conquistados duramente e desligados uns dos outros, Tales
pretendeu encontrar neles ordem e razão, estabelecendo uma lógica. Quis, em
suma, procurar os caminhos de uma "geometria", como um conjunto
ordenado e coerente de proposições que contivesse, em uma sucessão objetiva, as
verdades geométricas conhecidas fragmentariamente pelos egípcios.
É possível dizer, mesmo, que Tales
forneceu uma nova feição aos conhecimentos egípcios: transformou a geometria,
de uma ciência de noções apenas esparsas, num sistema lógico. Depois disso,
seguindo seus passos, outros geômetras e matemáticos gregos construíram um
sistema matemático e geométrico que permaneceu como a expressão máxima da
Ciência da antigüidade, só superada na época do Renascimento.
Também os estudos astronômicos de
Tales, ainda que rudimentares, serviram para conduzir o pensamento grego em uma
direção mais racional em relação ao que tinha sido anteriormente. A astronomia
do período que precedeu a Tales era a de Homero e Hesíodo: uma descrição das
constelações e um amontoado de concepções vagas sobre a estrutura do Universo.
Se bem que a visão do mundo, segundo Tales, não tenha trazido nenhum progresso
decisivo para as concepções modernas, seu pensamento e modo de enfrentar o
problema ensinou e permitiu a seus sucessores - entre eles Anaximandro e
Anaxímenes - notáveis progressos, que levariam mais tarde ao reconhecimento do
Sol como centro do Universo.
Primeiro dos Sete Sábios - Em 582 a.e.c., o Oráculo de Delfos
proclamou-o o primeiro dos sete sábios da antigüidade. Isso significava que
suas descobertas eram conhecidas, discutidas e aprovadas pelos sábios do mundo
grego.
E também dessa mesma época é a
história das azeitonas. Parece que Tales se vangloriava de ser profundo
conhecedor de meteorologia (entre outras coisas), ciência que havia estudado
por longos anos, recolhendo dados sobre mudanças de tempo. Observava como, a
partir de indícios meteorológicos colhidos numa estação do ano, era possível
prever as características das seguintes. Tendo, além disso, observado
cuidadosamente como as estações influenciavam as safras, em certo ano (segundo
conta Aristóteles), prevendo uma excepcional colheita, serviu-se disso para
organizar uma colossal especulação, ganhando grande soma em dinheiro. E parece
que fazia isso não só por dinheiro, mas para mostrar que a mente do homem de
Ciência pode servir também para a solução de problemas práticos.
Tales também tentou explicar as
inundações do Rio Nilo. A teoria levantada sobre estas inundações era a de que
"os ventos, soprando contra o Egito, elevam as massas de água do rio Nilo,
porque o adensamento do mar contra ele, não permite o escoamento" .
Uma destas teorias diz, que os
ventos etéseos são a causa da elevação do rio, por causa do embaraço criado
contra o defluxo do Nilo para o mar.
Tales não foi apenas matemático e
filósofo. Possivelmente foi também político, e dirigiu negócios públicos, mesmo
quando a partir de 612 a.e.c. em Mileto o poder estava com o tirano Trasibulo.
Este exterminou as famílias influentes dos partidos seus contrários e batalhou
contra os lídios. De outra parte, a tendência dos lídios foi a de conquistar as
cidades jônicas.
Do oriente avança um inimigo comum
dos jônicos e lídios, o rei medo Ciáxares, que batalha em 585 a.e.c ao rei
Aliates da Lídia.
Por causa do eclipse do sol (que
Tales predissera), as partes em luta suspenderam o combate, e se pacificaram,
porquanto haviam interpretado o fenômeno como uma advertência dos deuses. À
análise deste episódio se deve voltar, quando se tratar da natureza dos
conhecimentos de Astronomia de Tales e de sua época.
Desde 571 a.e.c. Creso reinava com
sucesso a Lídia. Ainda que tenha conquistado Éfeso, mantém relacionamento com
as outras cidades da Jônia. Neste tempo Creso recebeu as visitas de Sólon de
Atenas, Pitágoras de Samos e também Tales de Mileto, porquanto o rei da Lídia
se afamara pela sabedoria e benemerências.
Mas de novo surgiu do Oriente o
comum inimigo de jônicos e lídios. Desta vez é o rei Ciro, o qual conquistou,
em 546 a.e.c., Sardes, a capital da Lídia, bem como as cidades da Jônia. E toda
a região foi convertida em uma satrapia da Pérsia.
Tales, em todo este episódio,
mostrou-se o político sábio, na interpretação de Diógenes Laércio:
"Parece que também mostrou
grande sagacidade em assuntos políticos. Opôs-se à aliança política proposta
por Creso aos de Mileto, com isso havendo salvo a cidade depois do triunfo de Ciro".
Possivelmente Tales tenha
trabalhado algum tempo no exército lídio. Neste contexto apresentou Heródoto um
acontecimento sobre as habilidades de Tales, quando ele fez passar o exército
de Creso à outra margem do rio Halis. Mas o mesmo Heródoto duvidou do fato.
Contudo, mesmo que falte a verdade ao narrado, ele prova a fama de Tales.
"Quando ele chegou ao rio Halis. Creso
passou o exército pelas pontes existentes, conforme a minha versão. Mas,
conforme a versão geral dos gregos, teria sido Tales de Mileto, que o teria
transposto”.
Diz-se que Creso não sabia como
fazer a passagem do exército, porque não existiam tais pontes, e estando Tales
no exército fez que o rio, fluindo à esquerda, também fluísse à direita, da
seguinte forma:
Ele ordenou que cavassem fundo
desde a parte superior do lugar do exército em forma crescente, para que o rio
fluísse por trás do mesmo, desviando-o do curso anterior pelo canal, de sorte
que, depois de passado o exército, ele refluísse ao seu leito anterior. O
resultado foi que, logo quando o rio se dividiu, ele se fez passável em ambas
as partes.
Obras - Não deixou Tales de Mileto escritos que chegassem até nós,
nem sequer na forma de fragmentos. Possivelmente nada tenha escrito. Se por
ventura algo tivesse escrito, Aristóteles já não conheceu tal livro, porquanto
o Estagirita 11 menciona a doutrina de Tales, com aspecto de informação
recebida pela tradição, e com expressões acauteladoras:
"Outros
dizem... estas é pois a mais antiga informação, que se diz, ser de Tales".
Ainda hoje a principal informação
recebida sobre as doutrinas de Tales é a de Aristóteles, somente completada em
alguns detalhes por Suídas, Diógenes Laércio e Simplício. Se Aristóteles
tivesse tido em mãos o livro de Tales, ele teria deixado algumas citações, além
de mencioná-lo diretamente por algum título.
Doutrinas:
Água como primeiro elemento na composição da matéria - Segundo
Tales de Mileto a Terra seria um disco circular flutuando num oceano (``como um
pedaço de madeira'') que seria o princípio de todas as coisas. Todas as
substâncias seriam diferentes formas do elemento água: vapor, terra, água. É
possível que esta idéia de água como elemento essencial provenha dos
babilônios. Os corpos celestes seriam ``exalações aquosas'' em estado
incandescente, fenômenos físicos efêmeros, tal como os fenômenos meteorológicos.
Com todas as imperfeições que possa ter como explicação do Mundo, esta teoria
tem o mérito de não invocar nenhum poder alheio à natureza. Baseia-se em
observações ordinárias sobre os materiais como, por exemplo, a fusão do gelo, a
evaporação da água, os depósitos aluviais de sedimentos, que sugerem uma
``condensação'' da água em terra, e assim por diante. Esta é uma característica
marcante da escola jônica, que marca uma primeira ruptura com a sacralização da
natureza existente nas grandes civilizações anteriores.
Para Tales a arché, a matéria
prima, a origem de tudo é a água, Tales diz: "Tudo é água". Segundo
Aristóteles, a contribuição de Tales é relevante enquanto investiga o porquê
das coisas. Para ele, "a terra flutua na água, que é de certo modo a origem
de todas as coisas".O filósofo alemão Nietzsche diz que Tales é um mestre
criador que, sem fabulação fantástica, começou a ver a natureza em suas
profundezas. Para isso, serviu-se da ciência e do demonstrável, mas logo foi
além deles, já que isso é uma característica típica da cabeça filosófica.
Pra suportar as transformações e
permanecer inalterada, a água deveria ser um elemento eterno.
Tales também observou que o calor
necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são
úmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a
água. Com essa afirmação deduz-se que a existência singular não possui
autonomia alguma, apenas algo acidental, uma modificação. A existência singular
é passageira, modifica-se. A água é um momento no todo em geral, um elemento.
Tales com essa afirmação queria descobrir um elemento físico que fosse
constante em todas as coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os
seres.
As razões que levaram a Tales a
estabelecer a água como princípio de todas as coisas podem ser examinadas sob
vários enfoques, desde o apoio dos mitos, passando pelas preocupações
científicas nascentes da época, até as tentativas de provas objetivamente
examinadas. Como elemento básico de tudo, é o de sua maior presença. Não tinham
todavia os antigos recursos técnicos para constatação mais exaustiva de suas
hipóteses, como se passou a ter no futuro. Podiam estar entretanto no caminho
certo.
O que Tales entendia exatamente
pela água? E como é que ela se transformava?
Parece que a advertência era para
o caráter líquido da água, o que parecia provocar sua onipresença. E por isso,
as informações doxográficas antigas usam, ora o termo água ora úmido. Quanto ao
modo de se transformar a água não chegaram detalhes até nós, se, por exemplo,
pelo processo alternativo de condensação e dilatação. Sobre estes modos de
transformação tratam mais vastamente os filósofos seguintes; ao menos se sabe
mais sobre o que disseram.
Mas teve Tales como firme, que a
água se move por movimento próprio e contínuo, sem que algo de diferente a ela
a movesse, ao modo por exemplo de um Demiurgo, ou outro qualquer ser mítico.
Materialismo monítico - A matéria é, segundo Tales, a única
realidade de que tudo consiste. Evidentemente, a tese supõe que a matéria tudo
contém e que não é o pouco que dela se sabe.
A tendência da filosofia
pré-socrática foi o monismo metafísico, desde seu início, e este monismo,
sobretudo para os filósofos jônicos, é materialista.
Tales concebeu toda a matéria como
tendo a função da vida. Este hilozoismo e pansiquismo não resulta da
convivência dualista de vida e espírito com a matéria, e sim na universalidade
da presença da vida e do espírito como elemento intrínseco à mesma matéria.
Não se consegue determinar qual
foi a exata opinião deste ou daquele filósofo antigo, por falta de informações
doxográficas. E então importa apelar ao contexto genérico da escola a que
pertenceu o filósofo. Eis quando a advertência ajuda a firmar um conceito mais
preciso do sistema de um filósofo. Então o que importa atender, é que a
filosofia das escolas jônicas tendia para o monismo, quer no plano metafísico,
quer no plano da natureza.
Ante o conteúdo dos textos, não se
pode decidir taxativamente, - se toda a matéria é por si mesma animada, ainda
que este seja o contexto mais óbvio no contexto da filosofia da escola jônica,
- ou se apenas algumas matérias têm alma e movem as demais matérias. Em ambas
as hipóteses se admite dizer pelo menos o seguinte:
·
O mundo, num sentido monista, é vivo (pleno de
deuses);
·
Que as almas, ou demônios, são força de
coordenação;
·
Que a vida é movimento por si mesmo.
“Aristóteles dizia que para Tales, a alma é uma força movente, se é
verdade, que ele asseverou que o magnete tem alma, porque ela atrai o ferro"
O mesmo informará depois Aécio:
"Tales
foi o primeiro que disse, que a alma é uma natureza sempre em movimento, ou que
se move por si mesma".
Aristóteles indica claramente, que
Tales reuniu no mesmo elemento a capacidade de pensar e o poder de se mover.
Imediatamente antes ele fizera a exposição sobre Anaxágoras, que admitiu também
um elemento inteligente, que ao mesmo tempo move o universo.
Estudo do Homem - Evidentemente os pré-socráticos não esqueceram
totalmente o homem, ainda que enfatizassem a investigação sobre a natureza.
Isso não fora mesmo possível, porque também o homem é parte da mesma.
Conforme sempre se adverte, muitas
informações se perderam. Não é, pois, possível uma avaliação precisa sobre as
preocupações de Tales sobre o ser humano como personalidade.
Foi Tales um profissional, que ao
mesmo tempo era político, eis o que já é dizer muito. Mais ainda é dizer que
foi colocado na lista dos sete sábios da Grécia, porquanto estes eram assim
considerados pelos seus conhecimentos sobre a lei e a poesia.
Matemática - Aparentemente, foi Tales primeiramente um matemático e
engenheiro, o qual aos poucos passou às considerações da filosofia e da ciência
da natureza em geral.
Como matemático, Tales fundou a
geometria abstrata, a partir de conhecimentos empíricos já do domínio dos
agrimensores egípcios e babilônios. Progrediu a matemática entre os gregos, com
Tales, Pitágoras, Filolao, Árquitas, Euclides. A metodicidade de Tales deu
começo a esta ciência e que passou a progredir racionalmente entre os gregos,
mais do que até então.
Tinha a matemática o necessário de
racionalidade, para não ser afetada pelo pensamento mítico. Embora muitos dos
seus elementos permitissem a simbologia, mesmo dentro desta simbologia tudo
importava em raciocínios.
Importa, contudo não exagerar
sobre os progressos da matemática dos mais antigos pré-socráticos. Os
sucessores mais próximos de Tales não insistiram sobre a importância deste
mestre como um matemático. Somente os informantes mais distantes no tempo, como
Jerônimo de Rodes, Eudemo e Proclo, atribuem a Tales a formulação abstrata da
geometria.
Mais prudente é interpretar a
Tales como usuário inteligente dos conhecimentos práticos da geometria do
Egito, acrescidos embora de algum progresso. Tales foi portanto apenas um
iniciador da geometria abstrata. Para que ele ganhasse a admiração dos gregos,
isto já fora o suficiente.
"Diz-se que Tales o foi o
primeiro que demonstrou, que o círculo está dividido pelo diâmetro em duas
partes iguais".
Possivelmente Tales tenha feito a
constatação por meio de uma experiência meramente empírica, portanto por um
simples arrazoado indutivo, não por uma demonstração mais complexa. Nem
Euclides (falecido em 365 a.e.c.), em seus Elementoshaveria ainda de atingir
tal demonstração. Também Proclo fala somente da sobreposição de uma parte sobre
a outra, para atingir a percepção da igualdade das duas partes do círculo.
Teorema de Tales - "Quando duas retas se cortam, são iguais os
ângulos"
Tales observou que, num mesmo
instante, a razão entre a altura de um objeto e o comprimento da sombra que
esse objeto projetava no chão era sempre a mesma para quaisquer objetos
"Este teorema certamente
mostra, que de duas linhas retas, que se cortam, os ângulos contrários pelo
vértice são iguais. Contudo a questão se apresenta pouco clara, porque o
teorema supõe também outros conhecimentos mais simples, os quais possivelmente
Tales não tivesse. Por isso, melhor é supor que Tales se tenha valido de sua
experiência adquirida em cálculos práticos.
"Com referência à geometria,
Pânfilo diz, que:
Tales,
- aprendiz dos egípcios, - foi o primeiro, que inscreveu no círculo o ângulo
reto, e que por isso ofereceu a Deus um boi.
O matemático Apolodoro e outros
atribuem isto a Pitágoras. Só, ou ambos, Tales e Pitágoras estudaram este
aspecto da matemática, e cada um com resultado Com referência ao sacrifício do
boi, por causa de uma descoberta matemática, eis uma assertiva não convincente,
gerada todavia dentro dos parâmetros do pensamento mítico, que faz o saber
derivar de uma inspiração externa superior.
Não é impossível, que entre muitos
sábios continuasse a haver um resto deste modo de pensar. Ainda o eminente
Descartes, apesar de seu espírito crítico, fez uma promessa a N. Sra. do Loreto
de visitar o seu santuário, se resolvesse as suas dúvidas, e como julgasse
havê-lo conseguido, foi especialmente à Itália pagar seu voto. Assim também o
saber de Platão gerou o mito, de que fora gerado por Apolo, o qual teria
engravidado sua mãe; então o seu saber estaria explicado, porquanto era filho
de um Deus, e dali porque passou a ser citado como o Divino Platão. O mesmo se
dirá de alguns dos fundadores de religiões. E assim também a descoberta do
teorema de Tales teria valido o sacrifício de um boi.
Tales ensinou sobre a descoberta
das propriedades do ângulo escaleno e das linhas em geral.
Astronomia - Conseguiu Tales desenvolver idéias sobre a terra e os
astros sem os procedimentos da mitologia. De outra parte, porém, suas idéias
não ultrapassaram em muito as imagens vulgares do seu tempo, desenvolvidas em
parte pelos babilônios, e que concebiam a forma da terra como plana, como um
disco, apoiada sobre a água, como navio, cujas bordas são mais altas e que por
isso não afunda.
"Outros dizem, que a Terra
repousa sobre a água. Esta é a mais antiga teoria que nos foi transmitida, e
que foi atribuída a Tales de Mileto: a terra se mantém porque flutua, à maneira
como um pedaço de madeira, ou de outra coisa similar" .
A opinião de que a terra flutua
sobre a água pode relacionar-se com as conceituações semíticas sobre o antigo
mar, do qual aos poucos ela emergiu. Restos deste conceito mítico se encontram
também nas versões iniciais da Bíblia judaica e cristã:
"O Espírito de Deus pairava
sobre as águas..."
A interpretação dos astros, como
sendo de natureza similar à da Terra, apresenta-se surpreendente, porque sem
caráter mítico.
Segundo Aécio, Tales diz, que os
astros são semelhantes à Terra, todavia inflamados. Diz, que os astros são como
a terra, no que concerne à forma; de fogo, quanto à substância... ; que o sol é
semelhante à terra, quanto à natureza".
Ainda Segundo Aécio, Tales foi o
primeiro que afirmou, que a Lua é iluminada pelo Sol e que é 720 vezes menor
que o Sol.
Com este conceito primitivo sobre
o mundo, não parece ter podido Tales calcular os eclipses, senão a partir de
observações estatísticas, inteligentemente utilizadas. Estas ele possivelmente
recebeu em parte da Síria e Babilônia, onde sobretudo os sacerdotes observavam
os fenômenos celestes por razões religiosas. Tem-se notícias que desde 721
a.e.c., os sacerdotes babilônios anotavam os fenômenos astronômicos, e de pouco
em pouco aumentavam os conhecimentos sobre eclipses e sobre os solstícios.
Possivelmente após mais de cento e cinqüenta anos, ou pouco mais, quando surge
Tales, já houvera a possibilidade deste predizer o eclipse do ano 585 a.e.c.
Contudo, com estes limitados
recursos, não conseguiam os homens de então prever o lugar onde o eclipse
ocorreria, como também não o dia exato. Quando ocorria a possibilidade de um
eclipse ou outro fenômeno, distribuíam-se os sacerdotes a diferentes lugares,
para aguardarem uma constatação, muitas vezes sem resultado. Se Tales predisse
um eclipse para o ano 585 a.e.c. , esta predição talvez não houvesse sido
quanto ao dia, e nem quanto ao lugar. Felizmente, o fenômeno aconteceu na mesma
região e em momento oportuno, durante uma batalha sustentada pelos lídios,
contra os medos invasores.
De acordo com os cálculos da
moderna astronomia, o eclipse predito por Tales aconteceu a 28 de maio de 585
a.e.c., no 3º. ano da 48ª. olimpíada. Por meio desta moderna identificação do exato
momento do fenômeno, foi possível ajustar a cronologia de toda uma época.
Eis o informe histórico, vindo de
um importante historiador quase contemporâneo:
"A guerra entre eles [Aliates, rei dos lídios e Ciáxares, rei dos
medos] se demorava sem solução já durante seis anos. No sexto ano, ao estarem
em combate, o dia subitamente se fez noite. Que esta mudança do dia se iria
acontecer, o predissera ao jônicos o milesiano Tales, o que antecipou o término
da guerra quando ocorreu"
"O primeiro entre os gregos,
que investigou a causa dos eclipses, foi o milésio Tales, que predisse o
eclipse do sol que aconteceu, durante o reinado de Aliates, no 4º. ano da 48ª.
olimpíada, ano 170 desde a fundação de Roma".
Se a natureza destes fenômenos já
era em parte conhecida dos babilônios, deve-se aceitar, que também Tales os
conhecesse. Se ele mediu a altura das pirâmides pela sombra, devia ter também a
suficiente experiência para compreender, que a sobra do bastão muda conforme o
movimento do Sol em cada estação do ano.
Possivelmente logo depois
Anaximandro continuou a aperfeiçoar estes conhecimentos, e melhor construiria o
gnomo dos relógios solares, os quais pela sombra do ponteiro faziam conhecer as
horas de acordo com a altura do Sol. Tales, Pitágoras e seus seguidores
dividiram a esfera do céu em cinco circlos, que eles chamaram zonas
·
Árctica [ urso, ursa, polo norte, árctico],
sempre visível;
·
Trópico estival;
·
Equinóxio [igualdade do dia, equinócio,
equador];
·
Trópico invernal;
·
Antárctica.
Obliquamente às três zonas
centrais, vê-se o zodíaco, que toca as três do meio. O meridiano corta a todas
em linha reta desde o árctico até o polo oposto .
Terremotos - Foram explicados por Tales como flutuação pouco firme
da terra sobre a água que a sustenta nos fundamentos. Diz um texto, cujo
informe deriva da tradição de Teofrasto, através da escola estóica de
Possidônio: "Porque diz Tales, que o mundo está apoiado sobre a água, e
que ela viaja como navega ao modo de navio, e que ela flutua movente" . O
terrífico fenômeno do terremoto, que as narrativas míticas apresentavam como
punição divina, passa, a partir de Tales, a ter uma explicação racional, ainda que
com falta de acerto. A explicação de Tales significa ao menos um bom começo.
Estimulado certamente por esta teoria, Anaximandro tentará outra melhor.
Fonte: http://www.templodeapolo.net/civilizacoes/grecia/filosofia/presocraticos/filosofia_presocraticos_tales.html
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