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A verdadeira sabedoria é saber o quão pouco nós realmente sabemos.

Sócrates

25/12/2010

Epoché

Epoché é um termo grego que significa “parada”, “obstrução” e foi muito utilizado na filosofia cética. A Górgias, um dos representantes da sofística grega, é atribuída a postura conhecida como cética, outro grego, Pirro, acompanhante de Alexandre Magno em suas viagens de conquistas ainda naquele século, veio a conhecer muitos povos como diferentes valores e crenças, passando desde então a caracterizar o pensamento conhecido como cético, que, confrontando a diversidade das convicções que animavam os homens, bem como diferentes filosofias tão contraditórias, foi abster-se, no final, de aderir a qualquer certeza.
O cético, que vem de Skeptiko, em grego, significa “quem observa”, “quem considera”, conclui, nos casos mais radicais, pela impossibilidade do conhecimento, e nas tendências mais moderadas, pela suspensão provisória de qualquer juízo.
Ao reconhecermos a subjacente postura de estranhamento que possibilita qualquer “afastar-se” desta ou daquela concepção da realidade, pensamos poder ter, assim, identificado uma possível filiação filosófica da epoché husserliana com impulso pré-socrático que marca a transição do pensamento mítico para o pensamento filosófico.
Como vimos, a epoché tem origem no ceticismo grego antigo e hoje é conceito-chave na fenomenologia contemporânea. Sexto Empírico que foi um dos principais céticos e, segundo ele trata-se do estado de repouso mental, sem nada afirmarmos e nada negarmos, explorando o quanto não sabemos, para melhor atingirmos a imperturbabilidade. Então epoché seria uma maneira de olharmos, observamos o enigma e o mistério sem resolvê-los, ao contrario protegendo-os.
“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”. Trata-se de síntese do projeto fenomenológico, epocalmente lembrando que olhar não implica necessariamente ver assim como ver não implica necessariamente reparar.
Com isso somos alertados de que o olhar humano pode ser mentiroso e a percepção humana pode se dar fundamentalmente ilusória.
Protágoras ao dizer que “o homem é a medida de todas as coisas”, isto é, que todo conhecimento é subjetivo, logo, não há verdade objetiva, estabelecera as bases do relativismo que alimentaria os céticos e, em conseqüência, a epoché.
A suspensão do juízo caracterizava a atitude dos céticos gregos, especialmente Pirro. Para os céticos, a epoché era a única atitude capaz de levar à imperturbabilidade. Eles afirmavam que duvidar do caráter bom ou mau de todas as coisas leva o indivíduo a não querer nem rejeitar coisa alguma, tornando-se imperturbável.
Descartes ao fundar o metodo moderno efetua epoché tão sistematica quanto a dos céticos gregos, porém seu objetivo final era duvidar do ceticismo e suspender a suspeita, para chegar a certeza, ou seja, Descartes metodicamente duvidava de tudo para tentar acabar de uma vez com a duvida.
Na filosofia moderna, especialmente na obra de Edmund Husserl e outros fenomenologistas, o termo epoché adquire um significado diferente. Ao invés de efetivamente chegar a negar a existência, a epoché fenomenológica implica na "contemplação desinteressada" de quaisquer interesses naturais na existência. Em outras palavras, a suspensão de juízo fenomenológico não põe em dúvida a existência, mas se abstem de emitir juízos sobre ela, sua epoché não é cética, ele diz que não há sujeito mais realista do que o fenomenólogo, tem certeza de que esta aqui, de que é um homem, que vive em um mundo real e que dele tem experiência efetiva.
Husserl conclui que duas seriam as condições de combater o poder de fascinaçao e a influencia de uma fé, duas seriam as condiçoes de uma epoché fenomenologica: primeiro, tomar consciencia da fé através da reflexão que a tematiza e a põe em questão; segundo, operar, por um ato de liberdade, mudança de atitude e suspender, sem negar, a tese geral da existencia, a certeza da nossa fé no mundo.
QUESTÕES

a) Em Descartes, é possível afirmar que o conhecimento é subjetivo e que a verdade objetiva não existe. Justifique sua resposta.
Na tentativa de conciliara ciência e fé, Descartes deparou-se com obstáculos difíceis de serem transpostos. Ele acreditava que a verdade não pode ser buscada na natureza, pois a forma como esta se torna acessível aos homens é através dos sentidos, que são pouco confiáveis, mas, por outro lado, a ciência, enquanto projeto de domínio sobre a natureza, começava a apresentar evidencias de sua possibilidade, ou seja, para Descartes o progresso científico era um fato, que, entretanto, não podia obter sua fundamentação no plano empírico da existência, e, muito menos, nos dogmas religiosos, por outro lado, as experiências particulares eram incapazes de fundamentar uma verdade universal, e por outro lado, as verdades da fé mostravam-se cada vez mais distantes do processo em que avançava o conhecimento.
O passo revolucionário dado por Descartes, foi o de reconhecer a subjetividade como campo em que se estabelecem as relações entre conhecimento e verdade, ou entre a ciência e fé. Ao se deparar com a oposição entre verdades da fé e verdades da ciência, ele recusa este confronto e propõe que esta questão seja deslocada para o âmbito do sujeito. Embora o fundamento da verdade permaneça transcendente, as condições de possibilidade do conhecimento passam a ser atribuídas ao sujeito.
b) Em que consiste a postura cética de Descartes?
A postura cética do Descartes consiste em fazer uma espécie de anti-epoché, apóia-se no instrumento do ceticismo para depois negá-lo, seu objetivo final era duvidar do ceticismo e suspender a suspeita para chegar à certeza, ou seja, Descartes metodicamente duvidava de tudo para tentar acabar de uma vez com a dúvida.
c) Caracterize o ceticismo humano.

O ceticismo é estabelecido como método a partir de Pirro quatro séculos antes de Cristo. Pirro afirma que o homem em busca da felicidade deve fazer três perguntas: 1) – qual é a natureza real das coisas; 2) quais disposições convém adotar a respeito; 3) que conseqüências resultarão desta atitude. A estas perguntas devem-se dar as seguintes respostas: as coisas são equivalentes e indiscerníveis umas das outras, não se nos revelando nem pelas sensações nem pelos juízos, isto significa que não se deve confiar nem na razão nem nos sentidos, evitar de emitir a opinião que seja, permanecendo em estado de afasia completa, alcançando a ataraxia.
Para Pirro o belo e o feio, ou o justo e o injusto não existem, uma coisa não é mais significativa do que a outra, uma não é mais do que a outra. A afasia, conduz a epoché, isto é a suspensão do juizo,enquanto a ataraxia, como ausencia de perturbaçao, conduz a adiaphoria, ou seja, a indiferença. Ao abandonarmos a pretensão de controle e onisciencia, encontramos serenidade frente as vicissitudes do mundo
Ceticismo é olhar à distância, examinar, observar, é a doutrina que afirma que não se pode obter nenhuma certeza absoluta a respeito da verdadee, o que implica numa condição intelectual de questionamento permanente e na inadmissão da existência de fenômenos metafísicos, religiosos e dogmas. O termo originou-se a partir do nome comumente dado a uma corrente filosófica originada na Grécia Antiga.
O ceticismo costuma ser dividido em duas correntes: Ceticismo filosófico - uma postura filosófica em que pessoas escolhem examinar de forma crítica se o conhecimento e percepção que possuem são realmente verdadeiros, e se alguém pode ou não dizer se possui o conhecimento absolutamente verdadeiro. Ceticismo científico - uma postura científica e prática, em que alguém questiona a veracidade de uma alegação, e procura prová-la ou desaprová-la usando o método científico.

d) Qual é o sentido da expressão “redução fenomenológica”?

Pela redução deixamos de dirigir o nosso olhar para os objetos tomados em si mesmos, para dirigir a atenção para os atos da consciência que nos permitem chegar até eles. A redução fenomenológica é uma conversão do olhar que nos permite chegar ao objeto vivendo-o segundo seu sentido para nós, segundo o valor que lhe atribuímos e sobre o qual não negamos nossa responsabilidade.
Husserl contrariando a duvida cartesiana diz que a redução não é provisória, O que se procura é uma atitude que ofereça um olhar despolarizado dos objetos, liberando-os da reificação ao percebê-los como unidade de sentidos, ele quer converter todo o fato bruto em essência vivida, abrindo campo para a epoché, para esta espécie de eclusa reflexiva que bloqueia a atitude ingênua e permite, ao olhar, olhar o próprio olhar.
Faz-se necessário, então, revelar a consciência a si mesma, pondo a descoberto sua vida anônima para assinar a pressuposição do mundo e transformar em juízo consciente o preconceito natural.

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